quarta-feira, 14 de maio de 2008

Luta perdida


A areia do chão sentiu o peso do meu joelho e logo começou a responder a este ataque, marcando e criando pequenas feridas. As minhas mãos largaram o gume e a protecção para apoiarem o meu joelho nesta luta. Da minha testa escorria uma mistura de suor e sangue que acariciava a minha face, a minha barba por fazer, e pingava do meu queixo, regando a areia e tentando distraí-la. A ponta de uma espada poisava calmamente no meu pescoço. Uma voz questionou o meu arrependimento quanto à minha entrada naquela luta. Eu tinha entrado naquela confusão por amor, por paixão e impaciência. Não aguentava a distância, a antecipação, a vontade frustrada. E também não aguentava aquela estúpida alegria de sentir que amava e era amado e não o poder demonstrar com as minhas mãos e com os meus lábios. Peguei numa espada e lutei contra todas aquelas mãos e espadas que me separavam do que eu queria. Sacrifiquei tempo, dinheiro, outras actividades, porque para sermos felizes temos sempre de sacrificar algo. Agora acabava de sacrificar também a minha vida. Mas não havia problema, com um berro gritei "Enquanto houver vida, haverá tristeza, e tu vais agora acabar com ela!" Uma voz arrogante, sorrindo, apenas disse "Mas com vida também há alguma alegria e felicidade! E sem vida não há nada!" Uma lágrima soltou-se com o choque que estas palavras e o gume da espada fizeram no meu coração.