terça-feira, 26 de agosto de 2008

Lábios Errados

O ar era empurrado para fora daquele corpo pela pressão dos dedos e formava um ligeiro borbulhar à tona da água. Um sorriso era solto pelo reenchimento daqueles espaços com água, que se disfarçava com a suposta piada daquele anterior borbulhar. Em seguida o corpo sorridente, imitando fielmente o ritual do nascimento da carne, sentia uma chuva morna a percorrer locais aleatórios da sua pele. Apenas o esvaziar de todos os poros amainava aquela tempestade, que era seguida novamente pela expulsão de ar. Dez dedos mantinham-se mergulhados permanentemente na água, enquanto cinco mantinham o batimento da nuvem artificial e outros cinco se perdiam por um campo de trigo negro. As linhas soridentes ansiavam por colar-se a outras homónimas, e quando os cinco ceifeiros pareciam denunciar esse tão esperado contacto, decidiram antes executar aqueles imprudentes que preferiram abrir a porta a outros que proferiram palavras bonitas, que proferir palavras bonitas àqueles que a bomba que agora parava sempre pedira para tocar. E um corpo sorridente espelhava horror enquanto, mergulhado totalmente na água, sentia espaços vazios a encher e a pele a enrrugar.