quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Envelopes

Passei o dia a tentar resolver assuntos e no final não resolvi nenhum! Alguém acha lógico que os CTT não vendam envelopes? Pronto, os especiais, verdes e azuis, vendem. Mas, e para as pessoas normais, que querem apenas pegar na carta que têm há dois dias no bolso e a querem enviar? "Não menino, desses normais não temos!" Que eu saiba os hipermercados ainda vendem água normal, aquela em garrafões ao lado dos sumos, com cor transparente!
A normalidade passou assim tão depressa a ser algo tão anormal?

Vícios

Já lá vai um tempo desde que deixei um grande vício. E desde aí o vazio instalou-se!
É um bocado irónico toda a gente falar em deixarmo-nos de vícios, para uma vida saudável, e eu procurar um!  É irónico toda a gente falar mal da rotina e eu estar chateado por não ter uma!
Afinal de contas é a rotina que me mantém protegido, focado e a evoluir. Claro que nos prende a muita coisa que não nos deixa desenvolver, mas as minhas rotinas sempre me enpurraram para um crescimento exponencial. Não falo em andar semi-morto de um lado para o outro, mas sim em me manter focado em algo!
Perdi o vício que me mantinha bem, feliz, triste, ciumento, objectivo, trabalhador, frustrado e genial! Agora não sei o que me espera. Esta aventura é óptima, se tiver um porto de abrigo, um alicerce a partir do qual cresço! Já não sei onde anda esse alicerce.
Dou por mim a tomar decisões contraditórias, a dar um passo para a frente e logo outro para trás. Assim sem sair do sítio, onde anda a vida. A vida é uma caminhada, seja na direcção que for, é caminhar. É chegar a um cruzamento e escolher um lado, bem ou mal, escolho e ando! E agora estes vícios que vou tendo não me levam a lado nenhum.
Bem, para não continuar aqui sem andar, vou até ao meu vício que não me leva a lado nenhum!

P.S.: Já nem escrever sei se sei... Até esse já perdi!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Dia de sonhos

O som do despertador fez-me levantar sobressaltado, atirando-me ao botão de “off” para que aquele teimoso não acordasse a casa toda. Deitei-me novamente desesperado por dormir mais umas horas, mas possuía apenas alguns minutos para me preparar para o novo dia que se aproximava. Um gemido de revolta acompanhou um esfregar longo de olhos enquanto o meu corpo se espreguiçava. Levantei-me, atirei a roupa para cima da cama, visitei o duche, sequei-me, vesti-me, tomei o pequeno-almoço, lavei a malga e a colher, peguei no telemóvel, careira, chaves, livros e caneta e saí de casa. No caminho vi uma face que esperava, já durante algum tempo, a chegada da sua salvação, aquele que a iria salvar de um caminho duro e difícil. Passei por ela e alguns segundos depois chegou-lhe a tal salvação, o autocarro para em frente dela. Continuei o meu caminho e dois corpos sofriam a separação que iria ser quase uma eternidade. O amor dela e a paixão dele pelo corpo dela iam fazer uma tarde de trabalho quase uma eternidade até poderem encontrar-se novamente no seu ninho de sexo e prazer. Do outro lado da estrada alguém sujo, com aparência desagradável e repugnante seguia o seu caminho quando me deitou um olhar que, pedindo ajuda nenhuma, mostrava-se orgulhoso em manter aquele aspecto e aquela vida. Fui depois acompanhado por um anjo de cabelo encaracolado que parecia ter saído do seu caminho para me proteger e acompanhar em mais uma jornada do meu dia. Senti-me repentinamente feliz e seguro, julgando talvez ter encontrado alguém especial, mas aquele anjo virou à esquerda, entrou num café e cumprimentou alguém com um beijo caloroso, sem nunca me ter deitado um olhar. Entrei no campus, cumprimentei dois conhecidos, um deles acho que sei como se chama, o outro é amigo do que quase sei o nome. Cumprimentei com dois beijos uma amiga que, perdendo-se nas complicações das avaliações e pressões, possuía agora uma vida cheia de aulas repetidas, sendo agora apenas mais uma conhecida que um dia até teve alguma importância na minha vida. Cheguei ao edifício onde iria finalmente conseguir formar-me com profissional e pessoa, abri a porta a uma menina que, sem qualquer face sorridente, de disse um “obrigada” meio obrigado e continuou o seu caminho. Entrei no anfiteatro, quase adormeci na minha formação pessoal que apenas debitou matérias e conhecimentos tão inúteis como desapropriados, visando por uns segundos algo realmente importante e interessante, mas como não era uma especialidade ou tese da professora, foi referido de maneira efémera. Acabou a aula, caminhei ao som de música do mp3, não ligando ao que estava a acontecer ou passar por mim, cheguei ao quarto, sentei-me na cama e pensei “De que valeu a pena sonhar?”

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Cursor indeciso


O esforço para escrever algo era muito grande. Corriam temas e assuntos e imagens e situações e hipóteses, mas cada vez que o cursor ia deixando letras atrás de si, um olhar reprovador faziao voltar para trás recolhendo aquela sementeira. O terreno estava bem lavrado, os regos estavam todos alinhados, a terra estava fértil, a rega estava pronta para épocas difíceis, o antivírus estava actualizado e a função para salvar o documento estava activa e funcional, simplesmente a semente não era boa para morrer na terra e dar um bom texto. Não funcionava! As palavras estavam bem escritas, seguiam regras sintáticas, estavam a fazer sentido, mas nao encaixavam, não mostravam nada sentido, não tinham um enquadramento criativo e com qualidade. Não valia a pena escrevinhar qualquer coisa só para dizer que se escreveu. Desliguei!

quarta-feira, 18 de março de 2009

Suspiros

É a eficiência da ciência, a obrigação da perfeição, a necessidade de persistência atrás da conclusão. É a insulina na medicina, a cura que combina aquele que aprende, o doente e quem ensina. E perdido na desilusõ, sendo o meu veneno ou não, sinto a dor no coração da falta de intenção na compreensão de que muito trabalho nos dão e a necessidade e a obrigação de que nós, humanos, estejamos sempre superiores à perfeição. Usando drogas, massagens e bom humor de vez em quando, vou caminhando para a cura, sem sentir que lá estou de vez em quando. E vivendo tal engano, sentindo o encanto de ser manco, a honra de tropeçar, apanho ar, respiro fundo, arregaço as mangas e pego na nova batalha.

domingo, 8 de março de 2009

Beijo de cinema

"Estás entregue!" Olhei para aquela porta enorme que a ia separar de mim, mantendo-me completamente estático, sem saber o que dizer mais ou fazer. Estava na altura do momento à cinema, em que ela pegava na chave mas não a metia na porta, antes ficava com ela a tilintar à espera dum incrível e involvente beijo. Sim, como se eu tivesse coragem para tal. Olhei para ela mais uma vez, aproximei-me, dei-lhe um beijo na testa e "Até amanhã, dorme bem." enquanto vinha vindo embora ao som do "Boa noite para ti também." Que frustração, que estupidez, que falta de coragem, que génio! Nada como fugir à rotina e ao óbvio, deixando aquela chaminha e aquele desejo a remoerem-se um pouco, dançando alegremente com a dúvida e o medo de rejeição. Bem, sentindo o vento a afagar-me o cabelo e aquela morrinha, aquela chuva miuda que ia massajando-me o espírito, bocejei no meu caminho para o meu descanço. Tinha sido uma noite interessante, muito interessante.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Perdido entre lençóis...

Perdido entre lençóis e medos, rebolando em dúvidas e ilusões, procuro esquecer o que fui e o que passou. Procuro encontrar uma nova razão de ser, de viver, de sentir, de descobrir, de sonhar, de amar, de ser eu próprio. Procuro encontrar-me. Procuro definir-me. Procuro ser-me. E nesta procura, neste rebolar, vou perdendo horas de sono, horas de descanso que me farão perder energia e atenção para o eu e amanhã. Mas qual será eu? Será o bem-disposto? O trabalhador? O deprimido? O preguiçoso? O orgulhoso? O nervoso? O rabugento? Será que me vai apetecer trabalhar? Ou estudar? Ou ajudar? Ou aprender? Ou preguiçar? Ou implicar? Bem isso só descobrirei quando sair dos lençóis onde me perco amanhã. E até lá, perdido entre lençóis e medos, tentando descobrir como devo pensar no que sinto, ou se devo pensar o que sinto, remoendo sonhos, ilusões, vontades, depressões , instintos e valores, vivendo recordações passadas e adivinhando vivencias futuras, rebolo!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Figura que passa..

E da figura que passa, daquela que deixa apenas como marca a sua passagem que já foi e não volta a repetir-se, dessa figura de um estranho que passou sem querer, alheio ao que estava a provocar e que nunca saberá o que marcou, desse vulto que criou uma sombra de dúvida e de vontade de voltar atrás e iluminar-lhe o rosto, desse corpo que deixou um aroma marcado no meu nariz, desse alguém que passou por mim, fica apenas uma passagem que nada mais fez que ser ignorada por todos, mas cuja ignorância marcou um momento, o segundo que marcou a sua passagem.

sábado, 1 de novembro de 2008

Rascunhos


Perdido… Sempre perdido! Vá, esfregar a os olhos, respirar fundo, abanar a cabeça e olhar para o texto outra vez. O banco do autocarro sofria com o meu peso… Mais uma metáfora repetitiva. Tentar outra vez! As duas vozes suaves que estavam atrás de mim… Boa, estavam atrás de mim e daí? São banalidades! Entretanto uma voz respondia suavemente aos porquês do filho… E isso interessa a alguém? Começo a ficar farto! Calma, concentração, inspiração. Inspiração… Já não sei o que é isso. Espera, estou a sentir o peito a inchar involuntariamente, estou a viver palavras, imagens e cheiros à minha volta, acho que me estou a inspirar… Não, estou a forçar a coisa. Aliás, se estivesse inspirado não estava com tanta raiva do que estou a escrever. Estou só a perder tempo e a desperdiçar bateria. Mas que mania a minha! Mas por que raio é que eu tenho d tentar colocar nas palavras o que sinto esperando que quem ler irá sentir o mesmo que eu? Eu sou científico, racional, e sei que isso não é possível. E pronto, para não variar dou por mim a contrariar-me a mim próprio… É isso e a minha mania de falar demasiado, sem demasiadamente sincero. OK, isto agora está a parecer uma introspecção… Estou sem paciência para deprimir agora. Que raiva! Que se lixe o computador e esta sensação e o texto que eu ia escrever! Vou dormir!

sábado, 25 de outubro de 2008

Árvore da Angústia

Aqui está o meu mais recente motivo de orgulho, uma música com uma letra minha. Espero que gostem:
http://www.youtube.com/watch?v=sg3n78ofjc8

Pois são lágrimas
A saltarem
Para um mar de ilusões,
É a água que vai regar
A árvore da angústia,
É a mudança constante
Da cor das estações,
E eu aqui
Procurando o teu caminho!

Corro para fugir,
Tropeço nos meus medos,
Salto por cima da felicidade
Esbarro com a saudade.
Só quando me sento
À beira do rio que descemos
Consigo pensar e chorar.

Passeio descalço no pinhal
Pensando no que fiz.
Sinto uma dor no coração
Mais forte que a dos pés no chão.
O suor que preenche os meus olhos
Acariciado pelos teus raios
Vai escorrendo e caindo.

Vejo folhas acumuladas
Palavras e textos que perdem sentido,
Pois só o tempo que estão paradas
Fá-las ficarem apagadas.
Pego numa folha aleatória
Do meio desta montanha
E vejo teu ser nela!

sábado, 4 de outubro de 2008

Dedicatória à Praxe


Um corvo poisou no sofá e ia observando o cair dos resguardos negros. Um a um, todos caiam naquele poço de mágoas e fuga do dia a dia, procurando manterem-se unidos, enrolados e protegidos. Daí, observavam a face pura daquele ritual a proteger o meu tronco, enquanto os ecoadores nas ruas solitárias e escuras eram atirados com as suas irmão para um canto, permitindo que o último resguardo negro se unisse a eles. Viagens pelo mundo resguardado adiaram a viagem da face pura, que poisou calmamente em cima dos resguardos negros. O corvo, das costas do sofá, via agora a seus pés um monte que se tornara branco e à sua frente um corpo que, deitado, começava a caminhar sozinho pelas ruas da memória, revendo os gritos, risos e choros do dia, as viagens e o tempo perdido, os corpos humilhados e subjugados das mentes que se tornavam cada vez mais unidos e integrados, que esqueciam famílias e amigos, lares e rotinas, e abraçavam agora aquele novo mundo chamado universidade.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Companheira da noite


Aquela sensação apoderava-se do meu corpo, transmitindo uma cada vez maior necessidade de encontrar a minha companheira de todas as noites, a porta para todos os meus sonhos, o cálice que recebe as minhas lágrimas, a vigia do meu sono, o conforto nas noites mal dormidas, o afagar nas noites frias. E assim agarrado a ela, lembrando o dia que passei, desejo, sinto, quero e não consigo. Resta então fechar as persianas sobre as manchas verdes que tanto viram e viveram nas ultimas horas e despentear o cabelo no suporte da minha cabeça!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Lábios Errados

O ar era empurrado para fora daquele corpo pela pressão dos dedos e formava um ligeiro borbulhar à tona da água. Um sorriso era solto pelo reenchimento daqueles espaços com água, que se disfarçava com a suposta piada daquele anterior borbulhar. Em seguida o corpo sorridente, imitando fielmente o ritual do nascimento da carne, sentia uma chuva morna a percorrer locais aleatórios da sua pele. Apenas o esvaziar de todos os poros amainava aquela tempestade, que era seguida novamente pela expulsão de ar. Dez dedos mantinham-se mergulhados permanentemente na água, enquanto cinco mantinham o batimento da nuvem artificial e outros cinco se perdiam por um campo de trigo negro. As linhas soridentes ansiavam por colar-se a outras homónimas, e quando os cinco ceifeiros pareciam denunciar esse tão esperado contacto, decidiram antes executar aqueles imprudentes que preferiram abrir a porta a outros que proferiram palavras bonitas, que proferir palavras bonitas àqueles que a bomba que agora parava sempre pedira para tocar. E um corpo sorridente espelhava horror enquanto, mergulhado totalmente na água, sentia espaços vazios a encher e a pele a enrrugar.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Tic-Tac


Um tic-tac que não acaba vai infernizando a minha vida e lembrando-me dos desperdícios a que me vou propondo voluntariamente. Vou desperdiçando mais uns minutos e aquele tic-tac vai fazendo a banda sonora, segundo a segundo, daquele meu fazer coisa alguma. Agarro num monte de penas, daqueles que se encontram envoltos num pedaço de pano, e ponho-o em cima do mecanismo sonoro. Continuo o meu quotidiano, agora embebido num tic-tac abafado, fazendo um eco maior na minha cabeça. Engraçado, podemos estar a fazer o que quisermos, a rir, chorar, dormir, correr, meditar, bocejar, fazer nenhum ou fazer tudo, fazer o bem ou o mal, que há sempre uma coisa constante a tudo, o tic-tac daquele relógio. E mesmo que eu me farte e o parta, o tic-tac vai continuar na minha cabeça e na minha vida. Bem, acho que vou aproveitar os próximos tic-tacs para descançar, para assim aproveitar bem os tic-tacs do dia de amanhã!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Luta perdida


A areia do chão sentiu o peso do meu joelho e logo começou a responder a este ataque, marcando e criando pequenas feridas. As minhas mãos largaram o gume e a protecção para apoiarem o meu joelho nesta luta. Da minha testa escorria uma mistura de suor e sangue que acariciava a minha face, a minha barba por fazer, e pingava do meu queixo, regando a areia e tentando distraí-la. A ponta de uma espada poisava calmamente no meu pescoço. Uma voz questionou o meu arrependimento quanto à minha entrada naquela luta. Eu tinha entrado naquela confusão por amor, por paixão e impaciência. Não aguentava a distância, a antecipação, a vontade frustrada. E também não aguentava aquela estúpida alegria de sentir que amava e era amado e não o poder demonstrar com as minhas mãos e com os meus lábios. Peguei numa espada e lutei contra todas aquelas mãos e espadas que me separavam do que eu queria. Sacrifiquei tempo, dinheiro, outras actividades, porque para sermos felizes temos sempre de sacrificar algo. Agora acabava de sacrificar também a minha vida. Mas não havia problema, com um berro gritei "Enquanto houver vida, haverá tristeza, e tu vais agora acabar com ela!" Uma voz arrogante, sorrindo, apenas disse "Mas com vida também há alguma alegria e felicidade! E sem vida não há nada!" Uma lágrima soltou-se com o choque que estas palavras e o gume da espada fizeram no meu coração.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Chá com um amigo


Uma chávena quente mantinha as minhas mãos longe do frio. Uma conversa lembrava a razão do meu coração estar quente. Falávamos das namoradas, da família, de música e de nós. De vez em quando um trago quente ressuscitava a voz e deixava a chávena mais fria. Mais umas palavras quentes mantinham o ambiente confortável e apetitoso. Uma chávena poisada, umas palavras vindas de uma cabeça quente, um suspiro e uma chávena que voltava a proteger as mãos do frio. De vez em quando uma mão fugia para dar voltas no ar, acompanhando algumas outras palavras, e voltava a proteger-se na chávena. Mais um trago, umas risadas, mais palavras e mais um trago. Enfim a chávena tornou-se fria e incapaz de proteger as mãos. O relógio, vendo isto, lembrou-se de se colocar à frente de dois olhos. Umas palavras de despedida e um abraço. Um porta fecha e ambas as chávenas são lavadas, secas e arrumadas. Enquanto um corpo se deita elas ficam a sonhar com o sabor do próximo chá.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Splash no parque!

Ouvia os meus passos húmidos enquanto passeava pelo parque. Há barulhos mais interessantes, mas como não havia vento, o parque não tem bicharada e estou farto de ouvir o rio, não tinha outro som para me distrair com. O ombro já pesava já se queixava e mudei a mala de braço. Os meus olhos mantinham-se fixos no chão que tantas vezes pisara e tantas vezes tinha visto. Já era o meu trilho pessoal, aquele dos pesos no coração. Sentia um friozinho no estômago enquanto o meu coração batia mais forte e depressa. A vontade de fazer alguma loucura era tanta e o peso do ombro era demais que ouvi um “splash” e vi todos os meus textos a esborratarem-se enquanto desciam o rio. Finalmente estava livre de mim próprio e do que era, pelo menos de uma grande parte, a minha consciência, criatividade e pensamento. Mas sentia-me na mesma, apenas com o ombro mais leve. O pânico assaltou-me e as minhas pernas saltaram para a grade, pronto para me ir salvar, mas tive demasiado medo de perder o resto de mim. Desci da grade a sentir-me um pouco eu, mas muito incompleto. Peguei no telemóvel, nos meus amigos, família e inimigos, o resto de mim que ainda sobrevivia. Um novo “Splash”! Os meus amigos, família e inimigos viam a distância entre mim e eles aumentar enquanto se sentiam húmidos e tomavam banho na humidade da relva molhada pela chuva.

terça-feira, 18 de março de 2008

Evangelho segundo a Dor


Uma ponta de ferro era segurada estaticamente no ar. Uma brisa trazia choros, mágoas e gritos de dor até aquela ponta que agora suspirava antes de começar o seu doloroso serviço. Aquele serviço, aquela função a que fora destinada a partir do momento em que foi comprada era amaldiçoada por todos os que a rodeavam, mas no fim dos tempos, depois de tudo se endireitar ela seria santificada, colocada a par das coisas mais sagradas. Mas por enquanto apenas começava a receber empurrões que a faziam atravessar camadas e camadas. Ao primeiro empurrão abriu um pequeno furo. Ao segundo começou a penetrar aquele meio e a sentir um doce e quente aroma férrico. Mais pancadas faziam-na mergulhar naquele aroma. Cada vez estava mais mergulhada. Bateu num objecto duro que imediatamente estilhaçou. Os fragmentos brancos espalharam-se naquele meio e soltaram um urro. Apenas agora reparava que a cada empurrão que sofria um grito era solto. Mais um empurrão, mais mergulhada estava naquele aroma, mais estilhaços se espalhavam e mais gritos eram soltos. Por fim sentiu uma lufada de ar. Estava agora a sair daquelas camadas, tinha atravessado-as. O aroma escorria por ela e chegando à sua ponta caia como chuva, em gotas. Começava agora a sentir outra camada. Mais uma para atravessar? Os empurrões continuavam, mas agora os grito não se ouviam, não haviam estilhaços e o aroma era mais frio, seco e com um aroma fresco a primavera. Por fim os empurrões pararam. A nova camada não tinha sido atravessada. Começava a sentir empurrões e gritos de outro lado. As suas irmão estavam agora a seguir os seus passos. No fim daquilo seria solta das duas camadas, tal como as suas irmãs e não seria perdida no tempo como as suas primas. Porque nessa altura já estaria santificada, seria demasiado importante para ser esquecida. Agora apenas segurava as duas camadas juntas. A sua função era monótona, mas umas palavras soltas atravessaram-lhe a alma fria e metálica. A essas palavras já não interessava o beijo que ardia, os espinhos e pedras que esbarravam com os seus pés enquanto era arrastado, a coroa que queria agarrar-se à sua pele, o monte de madeira que estava às suas costas, o atravessar das suas mãos e pés por aquelas pontas metálicas. Apenas interessavam elas próprias, essas palavras, esse “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!” E o aroma quente e férrico pingava. Gota a gota a humanidade era salva!

segunda-feira, 3 de março de 2008

Forças

A força que rugia dentro de mim fazia tremer todas as folhas à minha volta. Via plantas a regredirem para o seu estado de semente. Os pássaros voltavam para o ovo e montavam toda a casca à sua volta . As moscas tornavam-se larvas que se enterravam na terra. O cordeiro procurava voltar entrar no ventre de sua mãe. Tudo à minha volta tremia. Tudo o que se conseguia mexer corria, escondia e procurava protecção. A minha força voltava a rugir. As sementes voltavam para a espiga que se tornava novamente numa flor, que se fechava em botão que voltava para o caule que regredia e se unia com a raiz numa nova semente. O ovo voltava para a sua mãe que se tornava num pinto dentro da sua casca. As larvas ficavam em ovos que eram fechadas na terra que se tornava em pedra. A ovelha que agora guardava um novo ser no ventre tornava-se cordeiro e procurava desesperadamente um ventre para entrar e se proteger. A sua confusão era grande, balindo e correndo às voltas, não encontrando ventre para a proteger. Agarrei aquele órfão e calei a minha força interior. O meu mundo desaparecia a cada grito que ela dava e eu não queria perder mais deste mundo. O cordeiro olhou para mim e lambeu-me a mão. Olhei para ele com ternura. Um novo grito queria sair novamente de mim e eu tentei calá-lo. Lutei contra ele, mas ele mosrava que era mais forte do que eu. Só agora via a força dele, pois, tal como o vento, só sabemos a sua força se o enfrentarmos; se nos deixarmos levar nunca saberemos o seu verdadeiro poder. Uma nova lambidela na mão implorou um último esforço e eu calei-me. O cordeiro cresceu novamente e deu à luz uma nova vida que,ainda cambaleando, me disse para utilizar a minha força em vez de criar fúria por nada fazer. A minha resposta foi interrompida por uma voz que me chamava e uma mão que me dava estaladas na cara. Abri os olhos e beijei os lábios que me agrediam, enquanto a minha cabeça e costas se queixavam da quebra da corda de rappel.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Guerreiro da luz

A minha cabeça poisou num pequeno monte de penas e senti tudo o que estava à minha volta a girar. A parede, o guarda-fatos, a mesa cabeceira, a porta, o candeeiro, o tapete, as sapatilhas, tudo girava cada vez mais depressa! Fechei os olhos para não enjoar com aquela imagem. Senti-me mais leve, como se uma brisa estivesse a elevar os lençóis que me cobriam. Aquela leveza levava os meus sentimentos de raiva e as minhas mágoas embora. Senti a brisa a parar, os lençóis e o monte de penas a cairem-me aos pés, o cabelo a roçar a testa. Estava de pé! Olhei à volta e do quarto onde me deitei apenas sobrava o monte de penas e o lençol espalhados no chão, ali abandonados e a ficarem cheios de terra seca. Os meus pés sentiam bem aquele solo, enquanto me via numa planície castanha com o horizonte pintado de azul. Uma luz surgia à minha frente. Avancei na sua direcção, dei alguns passos e acabei por sentir os meus pés amarrados por heras que ali antes não existiam. Estava preso naquele sítio! Uma figura masculina vestia uma armadura dourada, segurava numa mão uma espada e na outra uma balança. Possuia ainda um par de asas brancas que se desprendiam das costas e se abriam em todo o seu explendor de lado a lado, fazendo sombra sobre os meus olhos. Os lábios daquela figura eterneceram-se ao ver-me preso e libertaram um “Não te posso ajudar! Já travei demasiadas lutas tuas. Está na hora de tu te libertares sozinho!” A minha voz desesperou “Mas que posso usar para me soltar?” Recebi a resposta que já adivinhava “ Usa o teu coração!” Olhei para o meu peito, para o pedaço de carne que tinha amaldiçoado nos últimos tempos, aquele bocado de carne que eu chamara de egoísta e ruim e ele simplesmente bateu! Mas o seu batimento estremeceu a terra em minha volta. Outra batida! Mais uma vez a terra estremeceu. Outra batida! As cordas soltaram-me e o anjo voou em direcção à luz gritando “Vive guerreiro da luz! Vive por ti, pelo teu coração e por quem o ama!”
Acordei com suores frios! Olhei para a parede e vi lá a imagem do meu anjo. Tinha sido o anjo S. Miguel que me tinha mandado acordar! Eu inspirei fundo e deitei-me. Precisava de descançar mais um pouco antes de voltar a viver...

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Chuva viva

Uma pequena gota escorria pelo vidro. Quanto mais escorria a mais outras gotas se juntava, ficando mais pesada e escorrendo cada vez mais depressa em direcção ao precipício onde a minha alma se sentia. O relógio insistia em marcar a passagem dos segundos, a passagem do tempo que eu perdia agarrado àquele desperdício de vida. É engraçado que o relógio é a prova mais evidente de que o tempo passa sem parar e mesmo assim usamo-lo para desperdiçar mais um pouco da nossa vida nos nossos stresses e correrias. Outra gota começava a sua descida em direcção ao precipício onde aguardava a minha alma pela minha reacção. Mas a minha coragem continuava envergonhada a um canto e a minha vontade de viver tinha feito uma pausa. E eu continuava a ver as gotas a iniciarem a sua descida lentamente e a acabarem a correr em direcção ao precipício onde a minha vontade e auto-estima se tinham juntado à minha alma. E eu observava mais gotas a descerem. Pus um dedo no vidro do tranporte imobilizado. O meu cabelo escorria água e as minhas roupas estavam demasiado assustadas com o meu estado de espírito para se descolarem do meu corpo. O meu dedo apanhou uma gota de água que corria para o seu fim. Ela deteve-se um pouco no meu dedo, olhou para mim com tristeza e esperou. Não lhe consegui dizer nada. E ela simplesmente sorriu para mim e caiu. Ela sentia-se feliz por continuar o seu caminho e morrer no precipício onde estava a minha alma. Olhei para cima, para o ventre que paria todas aquelas pequenas vidas. A progenitora sorriu para mim. Senti uma revolta e gritei-lhe “Como podes estar feliz se estás a enviar os teus filhos para a morte?”Ouvi então a resposta que eu precisava para chamar a minha coragem e vontade e descer o precipício à procura da minha alma. E a resposta foi apenas esta “ A morte e a dor significa que elas vivem. E viver é razão suficiente para elas serem felizes. Se não vivessem, não sentiam!” E então eu gritei a quem me quis ouvir a coragem e vontade que eu tenho de viver e de sofrer “A mim a capacidade de continuar a ser uma pequena parte de Deus, de ser um pequeno milagre!” E um sorriso abriu-se na face que se encontrava ao lado da minha...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Sombras dos arbustos!

Estava a passear o meu corpo pelo parque da cidade numa manhã de Dezembro. O céu estava limpo e soprava uma suave brisa fria. Com estas condições era óbvio que se tinha formado geada durante a noite. De facto estava uma leve camada branca a cobrir as folhas da relva, dos arbustos e das árvores. Os raios do sol começavam a derreter os grãos de gelo presos nas árvores, de maneira que parecia estar a chover. Numa parte do parque o sol incidia directamente sobre a relva, de maneira que a água há muito que descongelara. No entanto existia um pequeno arbusto no meio do relvado que, claro, possuía a sua sombra, lançada sobre uma pequena parte no relvado. Na sombra do arbusto a geada ainda não havia dissolvido.

Imagina que a geada matinal são todas as tuas qualidades, ideais, sonhos, que o sol é o mundo em que vivemos e que o arbusto é a tua coragem, a tua vontade de lutar. Quanto maior a tua vontade de lutar, maior será o arbusto e mais sonhos conseguirás realizar, mais ideais conseguirás defender, mais qualidades manterás intocáveis.
Faz crescer este arbusto, torna-o numa árvore. Assim conseguirás realizar mais ambições tuas.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Choro da vinha


Ouvem-se estalidos ao longe. Aquela sinfonia cadenciada aclama à aldeia o desespero de uma mãe, que lhe vê serem retirados seus filhos. Corro para assistir à cena e deparo-me com duas lâminas siamesas a cercarem um filho, a abrirem-se bem e cortarem o cordão umbilical. Os filhos da vinha descrevem um movimento vertical de queda até se encontrarem com a mãe da vinha, sua avó, a terra! E é no colo de sua avó que morrem, são acamados, atados com vimes (filhos do vimeeiro, planta que ajuda na carnificina), deixados a secar ao sol e, depois de o seu calor cozer o pão e aquecer os filhos do homem, são seus restos mortais espalhados por este colo muitas vezes frio, mas sempre pronto para acolher qualquer um, sejam seus netos da vinha, seja seus netos do homem. Enquanto isto a mãe vinha, atado pelos filhos do vimeeiro para não acudir os seus, apenas chora, chora, chora.
Os filhos da vinha foram roubados a sua mãe e sua mãe, agarrada pelos malfeitores, apenas chora de tristeza. E eu, vendo aquela cena,penso no que me foi roubado e choro de raiva. Quem me dera ser vinha, para, ano após ano ver serem-me roubados os meus filhos e chorar de tristeza. Mas não sou vinha, e então vejo serem-me roubados amigos, pais, irmãos, filhos, companheiros, e choro de raiva contra o manuseador da tesoura, em vez de chorar a ausência dos meus ramos, das minhas vides!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Desafios

Quando achares que a vida está difícil, quando te perguntares por que razão te corre tudo mal, lembra-te desta imagem e do texto que lhe está associado. Porque o importante não é voltar, mas partir. E quando atingires uma meta, procura a próxima, porque sem metas a atingir não há vida. Vive para os desafios, mas vive também os desafios. Ainda aqui estás? Tens o Mundo inteiro lá fora à espera que tu aceites os desafios dele, por isso, VAI!

sábado, 29 de dezembro de 2007

Prefácio

É através dos olhos que vemos o Mundo que nos rodeia. Vemos desgraças, faltas de educação, fome, pobreza, guerra, raiva, inveja, beleza, amor, carinho, partilha, bondade, paz, alegria. Os olhos são janelas que nos permitem olhar tudo o que nos rodeia, a natureza, a tecnologia, os gestos humanos. E são estas imagens que entram lentamente pelos nossos olhos e chegam à nossa mente que nos despertam sentimentos. Não quero estar aqui a menosprezar os outros sentidos, mas no meu caso são os olhos que têm um papel de destaque, e também aqueles cujas sensações são mais facilmente descritas. E, de vez em quando, estas duas manchas que temos na cara encontram outras duas numa outra cara que mexem connosco. E então quando os lábios que se encontram abaixo dessas duas manchas nos entendem, e as mãos que seguem os impulsos dessas manchas nos acariciam, é o suficiente para despertarem em nós paixões antigas. Uma dessas minha paixões foi a escrita. E neste blogue estou a despertá-la novamente.
Antes de acabar, queria só dizer que ter os olhos abertos permite ver o mundo, mas muitas vezes só com eles fechado é que sentimos o mundo.

"Que inveja de ti vento
Quando lhe acaricias os lábios
E a fazes fechar os olhos
Como se fosse de prazer."